sábado, 28 de agosto de 2010

Inteligência Colectiva, Um Passo Avante

Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
19 Outubro 2007

A definição e o impacte do constructo Inteligência têm sofrido, de forma natural, mutações ao longo dos anos. Agradam-me particularmente as contribuições que Howard Gardner (Gama, 1998) e Daniel Goleman (1995, 1998, 2006) popularizaram no campo das Inteligências Múltiplas e Inteligência Emocional, respectivamente (ver artigos sobre Soft Skills publicados neste blog).
A Inteligência Colectiva endereça uma dimensão distinta. A popular enciclopédia Wikipedia define-a como uma forma de inteligência que emerge da colaboração e competição de vários indivíduos, situando o seu estudo na sociologia, nas ciências computacionais, e nos comportamentos colectivos.
Esta definição adianta pouco no pretendido entendimento e análise de impacte.
Afinal, qual a verdadeira importância, e porque lhe devemos prestar particular atenção?
Hoje em dia, mesmo questões aparentemente elementares sugerem conhecimentos e capacidades multifacetadas e pluridisciplinares – numa palavra trabalho em equipa. Os rasgos (insights) individuais continuam a ser fundamentais, sem dúvida, e pensar o contrário seria ignorar uma parte crucial da condição humana, com um custo a pagar deveras significativo.
Mas, em ambientes grupais, a capacidade de produção de novas ideias pode alcançar níveis tais que ultrapassem as melhores estimativas do grupo, e até as expectativas dos próprios indivíduos emissores, muitas vezes surpreendidos com as suas próprias ideias. Esta é uma óptima imagem do que significa o termo Inteligência Colectiva, que pode ser importante nexo causal de dramáticos incrementos nas performances organizacionais. Nesta perspectiva Inteligência Colectiva encerra e potencia superiores níveis motivacionais (a paixão pela tarefa é um bom exemplo), sentido de propriedade (ownership), e auto-estima individual e colectiva.
Torna-se, nesta altura, necessário distinguir entre Inteligência Colectiva e o que tradicionalmente se designa por Pensamento em Grupo (Groupthink). Este pretende descrever o esforço grupal na procura de consensos que permitam a aproximação de posições divergentes e ao entendimento colectivo que possa suportar a obtenção dos objectivos finais. Inteligência Colectiva, por seu lado, é o fenómeno que explica que ideias nunca antes consideradas, passem a ser partilhadas por outros membros, após a sua expressão, por todos os elementos da equipa.
Assim sendo, e aceites tamanhas virtudes, coloca-se a questão: Como será
possível apoiar e incrementar a Inteligência Colectiva no sentido da mudança, da criatividade e dainovação, sem que o habitual Pensamento em Grupo, eminentemente lógico, vertical, e orientado para o curto-prazo, interfira negativamente no ambiente de pensamento lateral e complementar, como diria Edward de Bono?
A solução passa pela confiança e pelo compromisso. Só níveis superiores de confiança libertam ambientes que facilitem a livre expressão de ideias e opiniões e a interpelação e desafio constantes da verbalização alheia. O compromisso, que neste contexto não pode ser confundido com nenhuma espécie de resignação, submissão ou obediência, refere-se aos contractos psicológicos que interliga os membros no sentido de consciencialização do interesse colectivo, dos valores complementares que cada um aporta e da dependência de todos em relação a todos – “Se é bom para o grupo, é bom para cada um de nós”.
A Inteligência Colectiva só encontra espaço para progredir no seio de grupos reais, não de equipas circunstanciais. O papel do líder torna-se assim fundamental. Sempre que, na formação dos grupos, existirem de forma clara interesses e objectivos partilhados, respeito mútuo entre os membros e interdependências bem conhecidas e aceites, estarão reunidas as condições para o florescimento da Inteligência Colectiva. E uma vez experimentada, esta dinâmica não terá limites.
A Inteligência Colectiva não é um processo funcional, nem um estado de espírito racional. Lida com relacionamentos intra e interpessoais, comportamentos, atitudes e outros atributos que se encontram no domínio do que se costuma designar por Soft Skills, de entre os quais releva a Inteligência Emocional.
Ao líder do grupo competem as cruciais contribuições de eliminar as primeiras barreiras de confiança, a criação do espírito de grupo e a contínua alimentação do prazer pelo desconhecido, pelas novas ideias, pela aceitação da divergência e da contestação, pela relativização das opiniões, pelo primado dos interesses em prejuízo das posições (Goleman, 1998-2, 2000).
Propósito difícil? Até pode ser. Mas desafiante e compensador.
Vale a pena tentar.

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REFERÊNCIAS:

BONO, E. (2005): O Pensamento Lateral, Cascais - Pergaminho
GAMA, M. (1998): http://www.homemdemello.com.br/psicologia/intelmult.html
GOLEMAN, D. (1995). Emotional Intelligence, New York - Bantam Books
GOLEMAN, D. (1998): Trabalhar com Inteligência Emocional, Lisboa – Temas e Debates Actividades Editoriais, Lda.
GOLEMAN, D, (1998-2) What Makes a Leader. Harvard Business Review. November-December, pp. 93-102.
GOLEMAN, D. (2000): Leadership That Gets Results, Harvard Business Review, March-April
GOLEMAN, D. (2006): Inteligência Social, Lisboa – Temas e Debates

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