sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Vietname, uma "Nova China"?

Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
02 Setembro de 2010

Vietname 2010

Quão distante está hoje o Vietname da minha juventude. Nos anos 1960 e primeira metade da década de 1970, seguia com paixão a luta heróica deste povo, na altura nação ainda dividida, em mais uma luta contra a ocupação. Houve quem pensasse que a guerra estava perdida, tal o poder do inimigo. Mas não, os vietnamitas perderam várias batalhas mas acabaram por vencer. 30 de Abril de 1975 jamais sairá da memória deste abnegado povo.
Passados mais de trinta anos, o Vietname é uma nação em profunda transformação que não escapa às atenções da comunidade de negócios internacional.
Foi ainda nos anos 1980 que as autoridades lançaram a nova estratégia do país, procurando libertar-se dos grilhões do passado. Mas foi uma decisão do então presidente Clinton que, em 1994 ao levantar o embargo americano, que viria a permitir a adesão à OMC em Janeiro de 2007. O sonho de se tornar em “uma pequena China”[1] ganhava forma.
Contudo, o choque da entrada num mundo novo e altamente competitivo não foi fácil. A rápida transição não permitiu ajustamentos progressivos. A mudança tem sido acelerada[2]. Vejamos alguns dados importantes[3]:

População: 45 milhões (1975), 80 milhões (2000), 80% vietnamitas
Área: 331.688 Km2
Cidades mais importantes:
Ho Chi Min – 7 milhões
Hanoi (capital) – 4 milhões
Haiphong – 2 milhões
Mão-de-obra: Abundante e barata. Analfabetismo < 7.5% Desemprego: 4.3% (2007 est.), 4.7% (2008 est.) 2/3 da população trabalha na agricultura PIB: 89.83 b$ (2008 est.)
Crescimento do PIB (est.):
8.2% (2006), 8.5% (2007), 6.2% (2008)[4]
Principais produções e exportações:
Arroz – 40 milhões ton., primeiro exportador mundial
Café – 800 mil ton., segundo exportador mundial
Outros alimentos – Chá, Bananas, Peixe, Mariscos
Carvão, Petróleo, Energia Hídrica
Taxa de inflação (preços no consumidor):
8.3% (2007 est.), 24.4% (2008 est.)

Estima-se que em 2003 existiriam cerca de 7 milhões de lares de classe média (projectando-se este valor para 25 milhões em 2015). Entre 2003 e 2008 o número de estudantes universitário praticamente duplicou.[5]
O consumo retalhista continua nos limites inferiores dos países da região, se bem quase tenha duplicado de 2005 a 2009, de acordo com informações do governo. No ano passado, este valor foi de cerca de $ 450 (€ 354), tendo o PIB/capita evoluído da seguinte forma (est. em $): 2,500 (2006), 2,700 (2007), 2,800 (2008)[6].
Tal como na China a criação duma empresa é livre. Teoricamente, pois os entraves burocráticos excedem o que está determinado e não é fácil constituir segunda e terceira empresa pelo mesmo investidor estrangeiro, estando os critérios de decisão na dependência de autoridades locais e sujeitos a demonstração de vantagem económica para o país ou região.

Em Roma sê Romano

A sociedade vietnamita está a mudar rapidamente. Quem imaginaria que se preveja que o mercado de produtos de beleza irá crescer a uma taxa de 15% ao ano, e que as compras de vestuário já representam 18% do rendimento mensal das mulheres urbanas entre 20 e 45 anos?[7]
Ou que, entre 2003 e 2009, o número de ligações móveis tenha passado de 3.5 milhões para 111 milhões, o número de PCs tenha sextuplicado (de 910 mil para 5.1 milhões), que o número de cartões de crédito em uso tivesse passado de 500 mil para 17 milhões (32 vezes mais), e que o número de veículos de passageiros tenha duplicado (514 para 919)? São indícios de mudanças muito significativas.
O Departamento de Estatística do Vietname estima que, no ano passado, existissem cerca de 18 milhões de utilizadores da Internet. Este valor representa 5 milhões de novos assinantes, só em 2009. Como é natural num país em tão rápido desenvolvimento, a realidade não é a mesma nas grandes cidades e no resto do território. Em Hanói e Ho Chi Minh, por exemplo, cerca de metade da população beneficia de facilidades online que utiliza duas horas por dia, em média. A realidade do país é, no entanto, dispare – fruto da tradição matriarcal, o meio de comunicação preponderante continua a ser a televisão, que a transforma no mais importante veículo publicitário vietnamita. No entanto, à semelhança do que se tem verificado noutros países da zona, os especialistas apostam fortemente nos suportes digitais, em especial junto das camadas mais jovens.

Obstáculos ou oportunidades?

Os investidores estão atentos ao rápido desenvolvimento deste país. Os detentores do capital gostam de arriscar mas não descuram o controlo do risco. Nomeadamente, procuram tirar conclusões sobre o caminho já percorrido pelos pioneiros.
Na indústria da distribuição, por exemplo, o sucesso da Metro parece explicar-se pelo recurso a lojas de significativa dimensão (dezenas de milhares de produtos), apoiada em fornecedores locais. A preocupação com funções sociais, parece estar a ser bem acolhida pelos clientes, destacando-se a política de higiene e segurança alimentar da empresa que constitui uma referência num país onde os problemas de saúde relacionados com intoxicações alimentares são endémicos[8]. Uma das iniciativas de grande impacte da Metro consiste em formar agricultores e pescadores em higiene na produção agrícola. Esta iniciativa já abrangeu cerca de 19000 agricultores e pescadores desde 2002, e insere-se em parceria com outras empresas, sob custódia governamental.[9]

Que perspectivas?

A Economy Watch não está tão optimista quanto outros analistas. Baseada nos resultados globais de 2009, esta agência afirma explicitamente: “A partir de 2009, em resultado da quebra acentuada das exportações, aumentaram o desemprego e as falências de empresas, bem como investimento estrangeiro”[10]. É razão para perguntar de novo: Obstáculos ou oportunidades?
Recorrendo, mais uma vez e essencialmente por questões de coerência de métodos de recolha e tratamento de dados, aos analistas da Economy Watch, esta é a macro perspectiva:

•PIB (b$) - 103.12 (2010), 179.816 (2015)
•Desemprego – 4.3% (2010)
•Inflação – 6.7% (2009), 12% (2010), 5% (2015)

É previsível que a estrutura económica do país não se altere muito e continue baseada na agricultura, indústria e serviços tendendo para colaborarem com pesos semelhantes para o PIB. Do sector turístico, que tem estado bem nos últimos anos, espera-se que se mantenha sustentável. Os principais produtos agrícolas deverão continuar a ser: arroz, borracha, cana, café, e chá. As grandes indústrias deverão continuar a ser: cimento, produtos químicos, papel, alimentação, e têxteis. Das riquezas naturais destacam-se: carvão, estanho, cobre, crómio, que se encontram sob controlo estatal.
Boas perspectivas não faltam.
Irão concretizar-se?
Veremos.

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NOTAS:

[1] http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI56295-15227,00-UM+VIETNA+RENASCIDO.html
http://noticias.uol.com.br/ultnot/economia/2006/11/07/ult1767u79638.jhtm
[2] http://blog.vietnam-aujourdhui.info/post/2010/05/15/Pobreza-absoluta-no-Vietn%C3%A3-cai-para-um-ter%C3%A7o-em-catorze-anos
[3] http://www.economywatch.com/world_economy/vietnam/
[4] A área de produção alimentar tem aumentado a 20-30% ao ano
http://www.economywatch.com/world_economy/vietnam/industry-sector-industries.html
[5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Economia_do_Vietname
[6] http://www.economywatch.com/world_economy/vietnam/
[7] Segundo informações disponibilizadas pelo General Statistics Office vietnamita
[8] http://www.ambhanoi.um.dk/en/menu/ConsularServices/OtherConsularIssues/
Food+poisoning/
[9] http://vietnamnews.vnagency.com.vn/Economy/200355/Global-corps-govt-to-launch-agri-task-force.html
[10] http://www.economywatch.com/world_economy/vietnam/

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