sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Alterações Ambientais (parte 1 de 3)

Petróleo, População, Novas Fontes de Energia
A Teoria Olduvai


Por: Vítor M. Trigo
vítor.trigo@gmail.com
05 Outubro de 2010

Enquadrando o tema

A ninguém passam despercebidas as alterações ambientais que estão a afectar o planeta. Deixamo-nos levar pelas notícias que inundam os média sem nos debruçarmos com um pouco mais de profundidade sobre o tema. Os jornalistas estão a fazer o que a sua profissão exige – que vendam – e todos sabemos que são as caixas rápidas, sintéticas, e dramáticas as que recolhem mais dividendos. Por isso, esses profissionais especulam com tanta persistência, ultrapassando questões éticas e deontológicas que dizem pautar as suas actuações. Mas não são só eles. O negócio é rentável e atrai famosos do chamado jet-set que, a mais das vezes, nada têm a ver com o assunto. É o caso de Al Gore, o mediático perdedor da política (alusão que utiliza para quebrar o gelo das suas palestras), que delicia multidões de desinformados que adoram assistir às suas palestras e ler os seus romances de ficção.
Negócio é negócio, e as oportunidades são para aproveitar. Decência e pudor não rendem fortunas.
Esta colecção de três artigos, intitulada genericamente Alterações Climatéricas, tentará mostrar que muito do que se diz e escreve sobre o tema não beneficia de suporte histórico nem científico – por vezes não passam de mera especulação, supostamente suportada em factos citados como reais, mas que não passam de descrições parcelares da verdade.
Nas duas primeiras partes abordam-se duas teses empiricamente justificadas - a Teoria Olduvai e a Teoria Beyond. Na terceira parte tentar-se-á divulgar um interessante estudo que visa desmontar a pretensa validade das teses catastrofistas e oportunistas duma série de ficcionistas, cuja face mais mediática é Al Gore, o ex-candidato à Presidência dos USA, “título” com que se apresenta ao seu dedicado, e normalmente desinformado, público.
No fundo, estes três artigos procuram, ainda que de forma simplificada, recolher as propostas que os autores seleccionados adiantam para as seguintes questões relacionadas com as alterações climatéricas, e em particular o designado aquecimento global: (1) Estaremos perante uma catástrofe natural incontrolável? A enfrentar um período de aquecimento global cíclico suportável? Ou face a uma estratégia de desenvolvimento errada, mas que ainda é reversível?
Avancemos, então.

A Teoria Olduvai

Também conhecida por Teoria do Declínio Terminal Eminente foi desenvolvida por Richard C. Duncan, MS em Energia Eléctrica e PhD em Engenharia de Sistemas [1]. Este autor debruça-se essencialmente sobre a questão do crescimento descontrolado da humanidade, reflectindo sobre cenários alternativos para o crescimento da população e sua sustentabilidade.
Baseado em dados dum estudo efectuado em 2004 pelas UN [2]:
• Numa previsão em baixa, a população mundial, que actualmente ronda os 6.7 biliões de pessoas, crescerá até cerca de 8b por volta de 2025, iniciando uma inversão de crescimento a partir de 2050, podendo vir a ser em 2100 cerca de 5.5b, baixando em 2150 para cerca de 4.5b, para atingir em 2300 entre 2.5b a 3b;
• Duas outras perspectivas, designadas como média e crescimento nulo, apontam para aumento progressivo até 10b por volta de 2100, mantendo-se então constante até 2300;
• Finalmente, na visão em alta, considerada como pessimista, prevê-se um aumento sistemático para 10b em 2050, 14b em 2100, 17b em 2150, 21b em 2200, 27b em 2250, e 36b em 2300.
Recorrendo a estudos de curto prazo, este autor analisa [3] o que poderá acontecer até 2050, estudando dados registados desde 1950 (em 1950 a população mundial rondava 1.8b, em 1975 cerca de 4b, e em 2000 era 6b):
• O estudo Meadows [4] aponta para crescimento até 6.9b por volta de 2020, atingindo um pico de 7.5b em 2025, iniciando uma queda para 6.5b em 2050;
• O estudo do USA Census Bureau [5] prevê idêntica evolução ao anterior até 2020. Este pico de 6.9b será o ponto de inflexão, a partir do qual se conhecerá um retrocesso para pouco mais de 5b em 2025, e uma queda tremenda para menos de 2b em 2050.
Face a estas informações, Richard C. Duncan prevê que por volta de 2012 se comecem a verificar blackouts energéticos permanentes um pouco por todo o mundo, que farão cair, por volta de 2030, os consumos efectivos de energia para valores semelhantes aos de 1930. Uma catástrofe de incalculáveis consequências, se nada for feito para evitar esta tendência [6]. Recorde-se que em 1930 o consumo de energia (medido em boe = barril of oil equivalent) per capita per year era 3.32, tendo atingido o pico em 1979 com 11.15 boe/c/year. [7] Tal significaria, por outras palavras e em consumos de energia como a conhecemos um retrocesso de cem anos!
A partir de 1992, Duncan alargou os estudos a outras fontes energéticas, nomeadamente ao petróleo, prevendo que a partir de 2007 este entraria em declínio acelerado até à extinção (a nota [8] é fundamental para se perceber o raciocínio de Duncan), precipitando a humanidade numa catástrofe malthusiana que conduziria ao desaparecimento da maioria da população ainda dentro do século XXI. Esta é a explicação para a previsão em baixa das UN atrás referida.
Como homem de ciência que é [9], Richard C. Duncan não se limita a dramatizar sobre o que receia poder vir a ser o futuro. Olha para a realidade e questiona porque não se envereda pelas soluções mais óbvias, aproveitando o petróleo enquanto existe, mas começando imediatamente a construir alternativas.
O quadro seguinte, mostra o potencial de uma das fontes de energia mais limpa que se conhece, e que não parece vir a esgotar-se em poucos anos.
Decomposição da energia emitida pelo Sol, em TeraWatts [10]:
• Emitida para a Terra – 178,000
• Imediatamente reflectida para o espaço – 53,000
• Absorvida e reflectida na forma de calor – 82,000
• Usada na evaporação de água (clima) – 40,000
• Capturada para fotossíntese (plantas) – 100
• Total usado pela Humanidade – 10
• Total usado pela sociedade USA – 2.5
A conclusão é tão óbvia que Duncan nem se preocupa em perder tempo a argumentar sobre ela. Apresenta-a. Tamanha evidência ainda não é suficiente para desalojar interesses instalados? O que é que falta, afinal?
Longe, muito longe mesmo, de descrever toda a riqueza da Teoria Olduvai, cujo aprofundamento se recomenda, este artigo visou revelar a visão de futuro nada risonho que o seu autor tem sobre o tipo de sociedade que desenvolvemos, aparentemente baseada na ideia de que os recursos do planeta são ilimitados.
Todos sabemos que isto não é verdade. Receamos, de facto, que o planeta um dia nos mostre os erros que estamos a cometer. Mas, no fundo, parece que mantemos uma velada esperança de que não tenhamos razão.

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NOTAS:

[1] Richard C. Duncan (2005) fundou o Institute on Energy and Man, 5307 Ravenna Place, NE, #1, Seattle, WA 98105. Pode encontrar muito completa informação sobre população, energia, petróleo, e a própria Teoria Olduvai em: http://www.dieoff.org./ e http://www.thesocialcontract.com/pdf/sixteen-two/xvi-2-93.pdf
[2] http://www.un.org/esa/population/publications/longrange2/2004worldpop2300 reportfinalc.pdf
[3] Duncan (2005): The Social Contract 2005 -2050. Em http://www.thesocialcontract.com/pdf/fifteen-three/xv-3-173.pdf, Duncan apresenta um estudo muito interessante sobre o pico na produção mundial de petróleo e suas implicações.
[4] Meadows et al (2004): Limits to Growth, The 30-year update. Interessante artigo sobre desenvolvimento e produção de petróleo aqui: http://www.independent.org/pdf/tir/tir_12_04_3_marxsen.pdf
[5] USCB (2004) 1950 – 2004
[6] Desenvolvimento em http://www.greatchange.org/ov-duncan,road_to_olduvai_gorge.html, elucidativa ilustração na Fig. 4 deste URL
[7] Para mais detalhada informação sobre
Energia: Romer (1985): Energy Facts and Figures, Amherst,MA: Spring Street Press BP (2006): BP statistics review of world energy, June 2006, www.bp.com
População: USCB (2006): Total Midyear Population, www.census.gov UN 2006): World Population to 2030, www.un.org
[8] Em 2006 o consumo global de energia repartiu-se da seguinte forma: Petróleo 35.43%, Carvão 28.15%, Gás Natural 23.46%, Electricidade Hídrica 6.27%, Electricidade Nuclear 5.79%, Eólica + Geotérmica + Biomassa + Solar 0.86%, Geotérmica + Biomassa + Solar não usada para electricidade 0.05%. http://edro.files.wordpress.com/2007/11/world-consumption-2006-abc.png http://edro.wordpress.com/energy/286w/
[9] Richard C. Duncan é engenheiro especializado em questões de energia. Alguns autores acham que ele não é um verdadeiro cientista, mas tão só um técnico qualificado. De facto, não consta que alguma vez ele se tenha dedicado à investigação em exclusividade. Duncan é Mestre em Energia Eléctrica e Doutor em Engenharia de Sistemas.
[10] www.hubertPeak.com/debate/oilcalcs.htm

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