Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
30 Novembro 2007
Quase toda a nossa actividade não repetitiva carece de relações pessoais como instrumento de recolha, processamento e entregue das soluções, com que pretendemos superar os desafios que nos são colocados. Dito doutra forma, hoje em dia, a maioria das soluções exige conhecimentos multifacetados que dificilmente são detidos por uma só pessoa, ou mesmo por uma equipa.
É a arte de criar e desenvolver redes de contactos mutuamente benéficos que explica o sucesso de tantos indivíduos para quem o tradicional Quociente de Inteligência – QI, faria prever grandes dificuldades de carreira (ver meu artigos sobre Soft Skills neste blog).
Infelizmente, muita gente, incluindo os gestores, parece ignorar esta evidência. Mais tarde ou mais cedo provarão o sabor amargo do insucesso, da desilusão e da frustração. Nessa altura só lhes restarão a resignação e o tratamento das doenças psicossociais, pois o caminho certo já não poderá ser reencontrado.
A notícia não é nova, mas os seus efeitos têm vindo agravar-se nas últimas três décadas. Dentre os factores que para tal mais contribuíram citam-se:
1. Poucas pessoas estão hoje dispostas a construir carreiras profissionais de vários degraus, cada um deles exigindo 3, 5, ou mais anos de experiência. Como tal, tentam descobrir atalhos, muitos deles de base ética duvidosa;
2. Os que antes apelidávamos de pares encontravam-se na estrutura interna, e a forma de os aceder era conhecida e controlada. Hoje, com a democratização das tecnologias da informação e da comunicação, os novos pares estão em todo o lado – clientes, concorrentes, fornecedores, etc., e tentar controlar-lhes o acesso, é perfeita utopia.
Uma interpretação superficial diria que, então: Tudo agora é mais fácil por mais acessível. Mas esta é uma visão redutora e perigosa. Quanto tudo é mais fácil para todos, as coisas podem complicar-se pois todos estão em competição por tudo.
Este é o mote – Descobrir novas redes de relações pessoais ainda inexploradas e defender acerrimamente as que formos usando.
Rob Cross, Thomas H. Davenport e Susan Cantrell (2003) produziram para o MIT, um artigo de indispensável leitura para ao profissionais que consideram o sucesso pessoal como um desígnio, e em particular para os gestores que ambicionam ser líderes. O termo profissionais, neste contexto, refere-se ao que em linguagem anglo-americana se designa por professionals, que poderemos traduzir por “trabalhadores do conhecimento” como referem Peter Drucker (1988, 1993, 1999, 2000, 2002), Charles Handy (1992, 1998) e Tom Peters (1990, 1997, 2000, 2001). Estamos a falar, portanto, da Nova Sociedade do Conhecimento que já está em marcha.
A ideia é simples e directa: O que distingue os profissionais de execução superior é a capacidade de alavancagem de redes pessoais, sem fronteiras nem inibições, mas com critério.
Clarificando: Todos nós dispomos de, pelo menos, três redes de contactos que usamos tão naturalmente a ponto de negligenciarmos a sua importância, começando logo por não lhe reconhecermos o estatuo que possuem.
A primeira é-nos quase passivamente oferecida – trata-se da família, mesmo a que se vai alargando, a escola e os companheiros de infância e adolescência. Chamemos-lhe Rede das Raízes Na segunda passamos a ter acção mais interventora, e compõem-na os amigos que seleccionamos, os parceiros, os sócios, ou os praticantes da mesma religião, clube ou círculo político. Esta é a Rede Social, que muito afecta o nosso desempenho. Por último, mas nem por isso menos importante, há que considerar todos os outros contactos que vamos estabelecendo, e onde se incluem os actuais e antigos colegas de emprego, mentores, coaches e mesmo aquelas relações esporádicas de que só nos lembramos quando delas necessitamos. Podemos denominá-la de Rede de Conveniência do Trabalho.
A eficiência na utilização que fazemos das redes depende de diversos factores. Salientemos os mais importantes:
(1) número de rede de que dispomos;
(2) quantidade de elementos em cada rede;
(3) grau de identificação e envolvimento com cada rede;
(4) Frequência de utilização da rede;
(5) Outras redes em que cada elemento das nossas redes participa;
(6) Frequência com que criamos novas redes.
Agora pense um pouco na seguinte questão: Sente realmente que a relação que mantém com os elementos das suas redes é recíproca?
Se a resposta não for afirmativa, ou se hesitar na resposta, aprofunde o tema, desafie os seus comportamentos, reveja os seus valores e princípios. Proceda de igual forma com os seus parceiros, pois pode ser que esteja a contactar partes que não lhe convêm, ou mesmo que não merecem a atenção que lhes dispensa.
Partilhe experiências, saberes e conhecimentos, em base de igualdade. Sem restrições.
Os outros temem os mesmos riscos e esperam iguais benefícios.
Acima de tudo, não tente ter sucesso sem rede. É demasiado arriscado.
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