Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
26 Julho de 2011
Nota importante:
Este artigo lida com valores monetários de magnitude anormal para o comum leitor português. A fim de facilitar comparações com artigos internacionais, todos os valores monetários serão expressos em dólares norte-americanos ($), a terminologia será a mais comum a nível internacional, ou seja: 1 milhão (m) = 1,000,000; 1 bilião (b) = 1,000,000,000; 1 trilião (t) = 1,000,000,000,000, e o valor de conversão Yuan (Renminbi) é, de forma muito simplificada, 1$ ≈ 6.5¥.
Muitos são os que esperam que a China, cujos indicadores económicos parecem não ter sido significativamente afectados pela crise financeira e económica que vem afectando o resto do mundo desde meados de 2008, assuma a salvação do capitalismo tal como o conhecemos. Derradeira e desesperada esperança dos demasiadamente conversadores, ou clarividência dos verdadeiros controladores do sistema, que venho intitulando neste espaço, como “mandantes”?
Jim Rogers, presidente da empresa de investimentos Rogers Holdings e Beeland Interests Inc, é um exemplo dos optimistas que prevêem que a China poderá vir a enfrentar algum declínio económico no curto prazo, mas que, tal como os americanos sempre fizeram com evidente êxito, irá superá-los no médio e longo prazos, não se deixando colapsar. Garry Shilling, presidente do A. Garry Shilling & Co., manifesta-se em sentido diverso: O modelo de crescimento “tipo-China” é insustentável; as excessivas dependências das exportações e do artificial controlo da moeda, não resistirão se, por exemplo, os consumidores norte-americanos se virem obrigados a poupanças forçadas (ver, mais adiante, como a China depende do consumo norte-americano).
Opiniões de analistas sobre o fenómeno chinês não faltam, e para os mais diversos gostos e clientelas. Olhemos por isso para os números mais recentes sobre a economia chinesa, tentando perceber o que eles parecem querer revelar. Todas as interpretações serão, naturalmente, subjectivas.
Comércio externo - exportações e importações
As exportações chinesas cresceram 17.9% em Junho, em relação a Maio de 2011, cifrando-se em 121.5 b$. No mesmo período as importações cresceram 19.3%, contra o crescimento de 28.4% em Maio. Mesmo assim, daqui resulta um acréscimo do excedente comercial esterno de 23.3 b$. Um valor que continua impressionante, quaisquer que sejam os filtros interpretativos que utilizemos.
Alguns analistas julgam ver no menor crescimento das importações um certo resfriamento da produção e/ou do consumo interno. Os dois domínios são especialmente sensíveis, dada a aposta continuada nas exportações concomitante com a nova aposta no consumo interno (ver “China forçada a dinamizar o consumo interno” e também ”O boom do consumo interno visto pelos estrangeiros). É, contudo, muito cedo para identificar tendências e antecipar implicações, mas o alerta já foi dado e a atenção vira-se agora para a confirmação ou não das previsões dos mais alarmistas.
De facto, se compararmos 2010 com 2008, verificamos que os valores decresceram (ver Economywatch de 12.Jul.2011:
Exportações (2008 / 2010): 1.429 / 1.194 t$ (- 16.5 %)
Importações (2008 / 2010): 1.131 / 0.922 t$ (-18.5 %)
Recorde-se que as relações comerciais da China são muito concentradas em poucos parceiros:
Exportações (%): USA 17.7, Hong-Kong 13.3, Japão 8.1, Coreia do Sul 5.2, Alemanha 4.1
Importações (%): Japão 13.3, Coreia do Sul 9.9, USA 7.2, Alemanha 4.9
Produto Interno Bruto (PIB)
Mesmo em plena crise económica mundial, o crescimento do PIB chinês em 2010 foi 10.5 %, para um total de 5,745.13 b$, prevendo-se para 2011 um crescimento de 11.8 %, alcançando 6,422.3 b$. Em 2015, o valor estimado para o PIB é 9,982.1 b$.
Em 2010, a população chinesa era 1.341 b. A previsão para 2015 é 1.375 b. Isto corresponde a um abrandamento notável no crescimento da população chinesa.
As preocupações das autoridades chinesas em relação à população não se confinam ao controlo do crescimento, que tem sido, como é público, alvo de particular atenção (ver artigo sobre Política de Filho Único). Como Wen Jiabao relembrou na Assembleia Nacional do Povo em Março passado, a qualidade de vida da população chinesa é uma prioridade do governo.
O desemprego verificado em 2010 foi 4.1 %, menos 4.65 % do que em 2009, prevendo-se que no período 2011 a 2015 se fixe em 4 %. Questão que parece controlada.
A inflação em 2010 foi 3.5 %. Uma enorme preocupação para o governo, pois correspondeu a um aumento de 428 % em relação a 2009. Apesar das medidas já tomadas, a inflação parece fora do controlo desejado (o Plano Quinquenal, aprovado em Março passado, impõe limitação a 4% para este ano, mas o valor verificado em Junho foi de 6.5 %). Novas medidas terão de ser tomadas, pois os planos já em curso (ver aqui e aqui também), parecem não estar a ser suficientes.
Endividamento dos governos locais
Oficialmente, e de acordo com os números revelados pelo National Audit Office ( ver FT de 08.Jul.2011), a dívida dos governos locais já ascende a 1.654 t$, dos quais 80%, embora por via indirecta, recai sobre os bancos centrais. Um valor muito elevado, mas nada comparado com a preocupante estimativa da agência de notação Moody’s que a coloca em 2.2 t$.
Perguntar-se-á como foi isto possível, conhecendo-se o controlo apertado, que foi imposto pelo governo aos bancos centrais, para este tipo de operações (ver aqui)? É que os operadores intermediários criaram muitas empresas que contraíram os empréstimos, cedendo-os depois aos governos regionais. A EIU de 21.Jun.2011, refere que, entre 2008 e 2010, o número destas empresas aumentou 25%, qualquer coisa como mais de 10,000 intermediários. A quase totalidade destas dívidas vencer-se-á em 2014-2015. Um horizonte próximo nada agradável, e que os investidores particularmente receiam.
A agência Fitch estima que, se 20% deste montante se vier a revelar incobrável, o que não será de todo irrealista, estaremos a falar de cerca de 450 b$. Ora, se o governo central vier a ser obrigado a cobrir esta lacuna, tal significará acrescentar cerca de 6 pontos percentuais aos oficiais 1.14% de incobráveis nacionais (números finais de 2010). A solidez do sistema será naturalmente afectada e a confiança no sistema perigosamente abalada.
Visto de outro ângulo, segundo os valores oficiais do Banco Popular da China, a dívida do governo central é de cerca de 20% do PIB. Um montante bastante saudável. Contudo, de acordo com os valores atrás referidos para a dívida dos governos locais, tal representará 35% do PIB. Alguns analistas calculam que, se o governo central for obrigado a incorporar todas as dívidas dos governos regionais e suas implicações no orçamento nacional, então será provável que os mais que aceitáveis rácios da divida pública chinesa actual – abaixo de 20% do PIB – se venham a transformar nuns preocupante 80%, a prazo relativamente curto. Que imagem degradada seria, assim, projectada para os mercados.
Que sinais se notam nas bolsas?
Na edição online do FT de 08.Jul.2011, relatava-se que a companhia de investimento de Singapura, Temasek, havia vendido 3.6 b$ de acções de dois bancos chineses, não especificando quais. Vários outros periódicos deram notícia de que o National Social Security Fund, que administra o plano de pensões chinês, havia cortado as suas posições accionistas nos bancos chineses.
Nestes meios, as coincidências não aparecem por acaso, nem as notícias são inocentes. Os investidores costumam estar atentos. Os anunciados 1.65 t$ de dívidas detectados a nível dos governos locais, não ajudavam a aliviar as preocupações. As dúvidas da Moody’s, atrás referidas (2.2 t$?), só carregam, e de que maneira, o cenário.
Entretanto em 2010, a valorização bolsista dos principais bancos chineses não foi poupada: em Shanghai, as acções do Industrial and Commercial Bank of China, perderam 19%, e em Hong-Kong 8%; também em Shanghai, e nos últimos 18 meses, as acções do Bank of China desvalorizaram 26%, e as do China Merchants Bank 23%. Os investidores não gostam nada destes indicadores. Laertas amarelos, no mínimo foram accionados.
Estará a China à beira de novo resgate?
Os mercados detestam resgates. Eles representam sempre perdas para os investidores.
Recorde-se que nos anos 1990s (como a memória nestes domínios se mostra tão volátil), a China recorreu a uma importante operação de salvamento do seu sistema bancário, vulgo reestruturação ou resgate de dívidas, enfrentando e recuperando o colossal endividamento que o ameaçava de colapso todo o sistema. Na época, as autoridades políticas injectaram centenas de biliões de dólares no mercado (ver aqui). A operação resultou, e os mercados pareceram ter querido esquecer o acontecimento.
Ora, alguns vêem nas actuais advertências do People Bank of China, um alerta para possível nova intervenção do governo, talvez já em Setembro próximo, assumindo a dívida de cerca de 2.2 t$ (números estimados pela Moody’s), ou parte dela, embora as autoridades chinesas se tenham apressado a negar essa eventualidade. É possível, porém, que algum compromisso venha a ocorrer envolvendo os bancos e o governo central, partilhando responsabilidades na solução desta questão, que não se pode arrastar como se de nada se tratasse. Uma alternativa poderá ser a emissão de obrigações pelas autoridades regionais, procurando melhorar a transparência das suas contas. Mas tal terá custos elevados a suportar.
Uma iniciativa deste tipo, dependendo da forma e extensão que vierem a ser decididas, poderá, contudo, como foi dito atrás, elevar relativamente os salutares níveis da dívida em relação ao PIB dos 20% actuais para preocupantes 80% futuros. Como estes novos valores poderão ocorrer ainda este ano, ou seja, numa altura em que o mundo ainda tenta superar dos efeitos da crise que se iniciou em 2008, estas previsões não agradam a ninguém.
Para melhor compreensão: Uma intervenção desta dimensão significa cerca de 8% do PIB chinês, superior portanto ao esforço de 5% do PIB dos USA que os americanos decidiram em 2008, com base no Programa de Alívio dos Activos Problemáticos (TARP). Sendo certo que a China dispõe de gigantescas reservas em divisas, não será de prever qualquer falência da banca causada por estas eventuais medidas, mas com certeza que surgirão problemas, ainda que pontuais, de liquidez nalgumas entidades.
Acresce que algumas fontes, o Standard Chartered Bank por exemplo, chama a atenção para que se não forem imediatamente levantadas barreiras ao processo de endividamento dos governos regionais, estes, só por força do investimento em habitações a preços regulados, poderão vir a atingir um acréscimo de 300 b$ apenas referentes a 2012.
Os desafios mais imediatos da China
Conforme ficou decidido na Assembleia Nacional do Povo de Março deste ano, continuam a ser enormes os desafios que se colocam à China moderna, em quase todos os domínios. Um dos mais importantes está em curso, e respeita à democratização do sistema económico, tradicionalmente fortemente centralizado.
Os transportes, as comunicações, e os recursos energéticos encontram-se entre as grandes prioridades. O governo, altamente competente sob o ponto de vista técnico, está ciente de que com infra-estruturas deficientes tudo fica mais difícil. A China procura afincadamente construir infra-estruturas de primeira classe mundial. Mas a sua extensão territorial requer investimentos gigantescos que têm de ser escalonados. Toda a liquidez será bem-vinda, ou, dito doutra forma, crises de liquidez não são de todo desejadas.
Outras questões importantes justificam atenção acrescida, como o presidente Hu Jintao, referiu na recente visita aos USA (ver detalhes do discurso aqui):
Nivelamento dos índices de desenvolvimento da população, nomeadamente na aproximação das capacidades económicas do interior rural ao urbanismo do litoral;
Combate sem tréguas à corrupção que ameaça o desenvolvimento saudável do tecido económico e as estruturas da administração;
Luta contra as ameaças à saúde, incluindo a taxa crescente da infecção por HIV;
Modernização do sistema político, adaptando-o às novas realidades nacionais e internacionais, que permita a convivência das escolhas políticas lideradas pelo PCC com o liberalismo crescente na economia;
Sustentabilidade ambiental compatível com o enorme desenvolvimento económico que o país tem conhecido nas últimas três décadas, e que se pretende continuar.
A China, já desde o ano passado a segunda potência económica mundial, ambiciona e poderá vir a superar os USA. Não será tarefa fácil, e por certo levará décadas a concretizar. Mas paciência, planeamento, e espírito de missão não constam das carências chinesas.
O domínio económico não é, contudo, indissociável do domínio político, o que segundo os padrões actuais implica poder militar (ver a propósito o que escrevi em Setembro de 2010 sobre a difícil relação da China com o Japão). A China procura fortalecer-se militarmente, mas está muito longe de poder ambicionar, a médio prazo, a constituir qualquer ameaça à descomunal capacidade militar dos USA, tanto a nível aéreo, naval, como espacial, se bem que disponha do exército terrestre com mais efectivos.
Coco Channel disse um dia que “uma mulher nunca é suficientemente rica nem suficientemente magra”. Nas relações internacionais poder-se-á dizer que “um país nunca dispõe de suficientes recursos, capacidades económicas, e poder político-militar”.
Parece ganhar novo fôlego o aparentemente extinto conceito de Coexistência Pacífica.
terça-feira, 26 de julho de 2011
domingo, 3 de julho de 2011
SOFT SKILLS - o ACOLHIMENTO
Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
3 Julho de 2011
Também designada por Integração e por Orientação (não considero esta designação nada feliz), esta fase inicia-se no dia em que o candidato seleccionado assume o lugar que conquistou. É claro que este é o ponto de vista do trabalhador, pois do lado da empresa contratante, este é o início da resolução do problema que tinha - a falta deste recurso nesta área de operações. Ambos satisfeitos, portanto. Ou melhor, o final feliz num jogo de solução ganho-ganhas.
Allport (1954) defendeu a ideia que o esforço de adaptação indivíduo-organização, configura o efeito de inclusão parcial pela qual a participação das pessoas na organização se limita aos atributos da personalidade que respondem ao que a organização define como desempenho esperado. Esta ideia de que quando um indivíduo incorpora uma empresa, compete-lhe exclusivamente perceber a cultura vigente e aderir a ela, é actualmente considerada como ultrapassada pelos novos padrões sociais, que tendem a relevar as competências individuais enquanto factores diferenciadores e competitivos das organizações nos meios em que operam. Hoje, muitas empresas pensam de forma diferente, procurando aproveitar as características profissionais e humanas dos novos contratados para os seus processos globais de renovação.
Para que o acolhimento seja um êxito e o trabalhador e empresa entrem o mais rapidamente possível no clima de mútua adaptação (person-job fit), compete ao empregador:
• Receber condignamente o novo elemento
• Proporcionar-lhe breve resenha da história da empresa, missão, valores, cultura e regras básicas de funcionamento
• Apresentá-lo às funções com que irá colaborar directa ou indirectamente
• Disponibilizar-lhe o espaço e meios técnicos adequados à tarefa e acesso a documentação relevante
Nalgumas empresas e nalguns sectores de actividade podem aplicar-se estatutos contratuais vulgarmente designados por “período experimental”. Nestas situações, mais do que noutras em que as práticas que a seguir se descrevem assumem carácter de boas práticas ou de simples regulamentos normais, o acompanhamento do novo elemento deve ser especialmente cuidado e documentado até para prevenção de cumprimento legal.
Para utilização durante o período experimental, e para servir como instrumento de avaliação do novo colaborador, o empregador deve:
• Definir os elementos que constarão do dossier de avaliação
• Dar conhecimento deles ao novo colaborador e certificar-se que este os entendeu
• Incentivá-lo ao diálogo construtivo e motivá-lo ao feedback positivo
• Informá-lo das formas das datas e formas de acompanhamento (pelo menos uma reunião a meio do período)
• Informá-lo da data e forma da avaliação final (fim do período)
• Obter acordo para o processo e consequências da avaliação final
A definição temporal de duração da fase de acolhimento não é assunto pacífico. Existem autores que acham que o acolhimento faz parte integrante da socialização, outros que a distinguem e lhe reservam meio-dia, outros um dia, alguns um dia e meio, outros ainda uma semana. Claro que não existe acordo porque a sua duração depende de vários factores: o recém-chegado, a empresa receptora, o tipo de actividade e a especificidade da tarefa.
Wanous (1992) e Feldman (1988) recomendam uma semana como o período aceitável e razoável para acolhimento e integração dos recém-chegados, considerando também que existem fortes razões para a autonomizar do processo geral e contínuo de socialização, até porque a Integração em ambiente novo e de tão grande significado transporta consigo uma carga de stress quase que inevitável, apenas verificável, embora a níveis inferiores, quando da mudança de funções. Isto significa que é legítimo considerar que quando um trabalhador assume novas funções sofre, de facto ainda que muito fugaz, novo período de integração (Schein, 1971).
Igualmente parece legítimo associar a fase de acolhimento como um indispensável período de redução dos níveis de ansiedade que a mudança sempre provoca, mesmo de que promoção se trate, ainda que sob auto-controlo.
A primeira importante constatação é que é na fase imediatamente posterior à entrada na organização que os recém-chegados experimentam graus mais elevados de tensão (Wanous, op.cit.), como a Fig. 01 ilustra.
Fig. 01
Relação entre estados de socialização organizacional e graus de stress, adaptação de Wanous (op.cit.)
Como se verifica, o pico de stress acontece nos primeiros dias de integração dos recém-chegados, verificando-se que nas fases de recrutamento e selecção (pré-entrada) e de socialização (pós-entrada), os níveis são semelhantes.
Ainda segundo o mesmo autor, idêntica curva de distribuição se revela quando se relacionam stress com rendimento (ver Fig. 02):
Fig. 02
Relação entre rendimento e nível de stress. Adaptação de Wanous (op.cit.)
Face a tão significativas informações, coloca-se a questão: Como lidar com o stress em cada um destes períodos? Não existe nenhuma fórmula mágica para lidar com o stress. Eliminá-lo afigura-se missão quase impossível. Diminui-lo, isso sim, é possível e não tão difícil quanto se poderia imaginar.
Em artigo específico discutirei o stress enquanto risco social. Por agora, consideremos que existem três tipos de aproximação aos problemas colocados pela ansiedade a quem se inicia numa nova actividade.
Uma aproximação possível advoga que a melhor forma de lidar com o stress é tomá-lo em consideração em lugar de o ignorar ou de o tentar evitar. O caminho mais directo é procurar identificar as suas raízes e aprender a com elas conviver e não ser surpreendido pelas suas ocorrências. Um exemplo da aplicação deste tipo de solução é a que adoptei quando preferi debater um mal entendido com um interlocutor, do que evitar o contacto com ele (aqui em ”Soft Skills & Gestão de Conflitos”).
Uma segunda perspectiva, completamente distinta da anterior, aconselha a que se proceda à reformulação da situação stressante com o objectivo de reenquadramento das questões em ambiente mais propício. É o que fazemos quando perante um erro cometido, procuramos desdramatizar o evento (“errar é humano”), criando condições mais vantajosas para a concretização dos objectivos e não colocarmos o enfoque no erro.
Uma outra aproximação focaliza-se nos sintomas do stress, tentando afastá-los. Entre as acções encontradas pelos seguidores desta linha contam-se as técnicas de relaxação, a meditação e os exercícios físicos, que podem constituir verdadeiras soluções. Mas também existem outras opções que no lugar de contribuírem para a solução, não só não o fazem como se constituem elas próprias como novos, e quase sempre mais persistentes, problemas.
O acolhimento, tantas vezes descurado pelas organizações, pode tornar-se, por tudo isto, a origem duma socialização bem sucedida ou completamente fracassada.
_______________________________
Bibliografia:
ALLPORT, G. (1954) The Nature of Prejudice, Reading, MA: Addison-Wesley
FELDMAN, D. (1988): Managing careers in organizations, Glenview, IL:Scott, Foresman
SCHEIN, E. (1971): The Individual, the Organization, and the Career, A conceptual scheme, Journal of Applied Behavioral Science, 7
WANOUS, J. (1992): Organizational Entry - Recruitment, Selection, Orientation and Socialization of Newcomers, Second Edition, John Parcher Wanous, The Ohio State University, Addison-Wesley Publishing Company, Inc.
vitor.trigo@gmail.com
3 Julho de 2011
Também designada por Integração e por Orientação (não considero esta designação nada feliz), esta fase inicia-se no dia em que o candidato seleccionado assume o lugar que conquistou. É claro que este é o ponto de vista do trabalhador, pois do lado da empresa contratante, este é o início da resolução do problema que tinha - a falta deste recurso nesta área de operações. Ambos satisfeitos, portanto. Ou melhor, o final feliz num jogo de solução ganho-ganhas.
Allport (1954) defendeu a ideia que o esforço de adaptação indivíduo-organização, configura o efeito de inclusão parcial pela qual a participação das pessoas na organização se limita aos atributos da personalidade que respondem ao que a organização define como desempenho esperado. Esta ideia de que quando um indivíduo incorpora uma empresa, compete-lhe exclusivamente perceber a cultura vigente e aderir a ela, é actualmente considerada como ultrapassada pelos novos padrões sociais, que tendem a relevar as competências individuais enquanto factores diferenciadores e competitivos das organizações nos meios em que operam. Hoje, muitas empresas pensam de forma diferente, procurando aproveitar as características profissionais e humanas dos novos contratados para os seus processos globais de renovação.
Para que o acolhimento seja um êxito e o trabalhador e empresa entrem o mais rapidamente possível no clima de mútua adaptação (person-job fit), compete ao empregador:
• Receber condignamente o novo elemento
• Proporcionar-lhe breve resenha da história da empresa, missão, valores, cultura e regras básicas de funcionamento
• Apresentá-lo às funções com que irá colaborar directa ou indirectamente
• Disponibilizar-lhe o espaço e meios técnicos adequados à tarefa e acesso a documentação relevante
Nalgumas empresas e nalguns sectores de actividade podem aplicar-se estatutos contratuais vulgarmente designados por “período experimental”. Nestas situações, mais do que noutras em que as práticas que a seguir se descrevem assumem carácter de boas práticas ou de simples regulamentos normais, o acompanhamento do novo elemento deve ser especialmente cuidado e documentado até para prevenção de cumprimento legal.
Para utilização durante o período experimental, e para servir como instrumento de avaliação do novo colaborador, o empregador deve:
• Definir os elementos que constarão do dossier de avaliação
• Dar conhecimento deles ao novo colaborador e certificar-se que este os entendeu
• Incentivá-lo ao diálogo construtivo e motivá-lo ao feedback positivo
• Informá-lo das formas das datas e formas de acompanhamento (pelo menos uma reunião a meio do período)
• Informá-lo da data e forma da avaliação final (fim do período)
• Obter acordo para o processo e consequências da avaliação final
A definição temporal de duração da fase de acolhimento não é assunto pacífico. Existem autores que acham que o acolhimento faz parte integrante da socialização, outros que a distinguem e lhe reservam meio-dia, outros um dia, alguns um dia e meio, outros ainda uma semana. Claro que não existe acordo porque a sua duração depende de vários factores: o recém-chegado, a empresa receptora, o tipo de actividade e a especificidade da tarefa.
Wanous (1992) e Feldman (1988) recomendam uma semana como o período aceitável e razoável para acolhimento e integração dos recém-chegados, considerando também que existem fortes razões para a autonomizar do processo geral e contínuo de socialização, até porque a Integração em ambiente novo e de tão grande significado transporta consigo uma carga de stress quase que inevitável, apenas verificável, embora a níveis inferiores, quando da mudança de funções. Isto significa que é legítimo considerar que quando um trabalhador assume novas funções sofre, de facto ainda que muito fugaz, novo período de integração (Schein, 1971).
Igualmente parece legítimo associar a fase de acolhimento como um indispensável período de redução dos níveis de ansiedade que a mudança sempre provoca, mesmo de que promoção se trate, ainda que sob auto-controlo.
A primeira importante constatação é que é na fase imediatamente posterior à entrada na organização que os recém-chegados experimentam graus mais elevados de tensão (Wanous, op.cit.), como a Fig. 01 ilustra.
Fig. 01
Relação entre estados de socialização organizacional e graus de stress, adaptação de Wanous (op.cit.)
Como se verifica, o pico de stress acontece nos primeiros dias de integração dos recém-chegados, verificando-se que nas fases de recrutamento e selecção (pré-entrada) e de socialização (pós-entrada), os níveis são semelhantes.
Ainda segundo o mesmo autor, idêntica curva de distribuição se revela quando se relacionam stress com rendimento (ver Fig. 02):
Fig. 02
Relação entre rendimento e nível de stress. Adaptação de Wanous (op.cit.)
Face a tão significativas informações, coloca-se a questão: Como lidar com o stress em cada um destes períodos? Não existe nenhuma fórmula mágica para lidar com o stress. Eliminá-lo afigura-se missão quase impossível. Diminui-lo, isso sim, é possível e não tão difícil quanto se poderia imaginar.
Em artigo específico discutirei o stress enquanto risco social. Por agora, consideremos que existem três tipos de aproximação aos problemas colocados pela ansiedade a quem se inicia numa nova actividade.
Uma aproximação possível advoga que a melhor forma de lidar com o stress é tomá-lo em consideração em lugar de o ignorar ou de o tentar evitar. O caminho mais directo é procurar identificar as suas raízes e aprender a com elas conviver e não ser surpreendido pelas suas ocorrências. Um exemplo da aplicação deste tipo de solução é a que adoptei quando preferi debater um mal entendido com um interlocutor, do que evitar o contacto com ele (aqui em ”Soft Skills & Gestão de Conflitos”).
Uma segunda perspectiva, completamente distinta da anterior, aconselha a que se proceda à reformulação da situação stressante com o objectivo de reenquadramento das questões em ambiente mais propício. É o que fazemos quando perante um erro cometido, procuramos desdramatizar o evento (“errar é humano”), criando condições mais vantajosas para a concretização dos objectivos e não colocarmos o enfoque no erro.
Uma outra aproximação focaliza-se nos sintomas do stress, tentando afastá-los. Entre as acções encontradas pelos seguidores desta linha contam-se as técnicas de relaxação, a meditação e os exercícios físicos, que podem constituir verdadeiras soluções. Mas também existem outras opções que no lugar de contribuírem para a solução, não só não o fazem como se constituem elas próprias como novos, e quase sempre mais persistentes, problemas.
O acolhimento, tantas vezes descurado pelas organizações, pode tornar-se, por tudo isto, a origem duma socialização bem sucedida ou completamente fracassada.
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Bibliografia:
ALLPORT, G. (1954) The Nature of Prejudice, Reading, MA: Addison-Wesley
FELDMAN, D. (1988): Managing careers in organizations, Glenview, IL:Scott, Foresman
SCHEIN, E. (1971): The Individual, the Organization, and the Career, A conceptual scheme, Journal of Applied Behavioral Science, 7
WANOUS, J. (1992): Organizational Entry - Recruitment, Selection, Orientation and Socialization of Newcomers, Second Edition, John Parcher Wanous, The Ohio State University, Addison-Wesley Publishing Company, Inc.
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