Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
10 Outubro de 2011
Desenvolvendo o interior do país
Como vem sendo habitual nas iniciativas estratégicas chinesas, nada é deixado ao acaso. Acompanhado o boom de exportações, que vimos analisando nos dois últimos artigos ”China – Novo Paradigma Exportador? ” e ”China – É “Pesada” a Nova Batalha nas Exportações” (aconselho a que sejam lidos por esta ordem), as autoridades chinesas apostaram na localização da produção de equipamentos pesados no interior do país, para assim dispersarem riqueza pelas zonas menos desenvolvidas.
Se olharmos para as províncias costeiras, e como consequência do fortíssimo investimento estrangeiro, verificaremos que se acentuaram as diferenças para o interior. (Nota: estima-se que o investimento estrangeiro na China entre 1978 e 2011, possa ter atingido cerca de 750 b$, dos quais 420 b$ ocorreram entre 2006 e 2010, segundo a Revista Veja de Outubro de 2010).
Mas, a partir de 2007 iniciou-se o processo de aproximação – o crescimento do PIB nas regiões do interior superou consistentemente o crescimento do PIB das zonas costeiras. (consulte aqui a Wikipedia).
As duas realidades, zonas costeiras e interior, podem ajudar-se. O interior detém a maioria da industria pesada e é carente de produção mais ligeira, que embora muito significativa até agora nas exportações se situa quase somente no litoral (têxteis, indústria farmacêutica e electrónica). Não se percebem movimentações da indústria pesada para a costa, embora nesta possam vir a ocorrer investimentos, nomeadamente nas áreas de produção de componentes. Em simultâneo, a aposta nas indústrias leves para o interior é inequívoca. Trata-se também, e essa vertente é muito importante, da contribuição para a solução de questões sociais antes que elas possam ocorrer.
Como vimos nos dois artigos anteriores, “China – Novo Paradigma Exportador?” e “China – É "Pesada” a Nova Batalha nas Exportações”, a indústria pesada chinesa está a passar por um período fantástico, a ponto de as empresas Sany e Zoomlion , sediadas em Changsha, e a empresa Xugong , de Xuzhou, estarem agora entre o top ten mundial. Saliente-se que, ainda em 2009, nenhuma empresa chinesa constava desta lista.
Aproveitando esta expansão, as províncias do interior desenvolveram estreitas relações comerciais com os países vizinhos, também eles em desenvolvimento, e ávidos de apoio. Beneficiam igualmente de todas as infraestruturas, em particular dos novos transportes rodoviários e ferroviários. A Associação das Nações do Sudoeste Asiático (ASEAN) está de mãos abertas, preparando-se para transformar a região de Guangxi num importante centro logístico, suportado pela recentemente criada “Zona Especial de Desenvolvimento” . Encontram-se igualmente em franca expansão as redes com destino ao Sul (Singapura), as ligações do Oeste para a Ásia Central e Europa, bem como a recuperação da antiga ligação com a Rússia. Em paralelo, a China lançou em 2010 o que intitularam como uma gigantesca rede ferroviária de alta-velocidade .
Um negócio entre pares
Foi por volta de 2005-2006 que os mercados emergentes passaram a puxar pelas exportações chinesas. De tal forma o tem vindo a fazer que o conjunto de países não-OCDE deverá ser em 2012 o principal destino das exportações chinesas.
Por outro lado, como vimos, a produção chinesa a partir de capital nacional deverá superar a que provém de capitais estrangeiros. Não se infira daqui que o investimento estrangeiro está a diminuir. Não. O que está a acontecer é que existe uma nova aposta destes investidores orientado para o consumo interno que os chineses querem desenvolver (ver aqui ).
Estas duas tendências significam que o envolvimento económico mundial da China na próxima década vai ser predominantemente realizado por empresas chinesas, de capital chinês, que abastecem os mercados dos outros países em desenvolvimento. Isto é uma inversão do que se passou na década passada, na qual o investimento a partir de multinacionais foi um factor-chave da integração da China na economia mundial.
Mais importante, os bens de maior valor que os países não-OCDE estão a importar (comboios, tractores, camiões, guindastes), são aqueles em que os fabricantes na China estão a apostar. É por isso que se designam estas trocas por negócio entre pares, ou negócio Sul-Sul, como a figura seguinte ilustra.
Que novas frentes se perspectivam?
A caminhada da China parece não apreciar limitações. Os chineses encaram os obstáculos com motivação. Os êxitos que estão a conquistar em países terceiros, começam a gerar imagem positiva no Ocidente, e as autoridades chinesas sabem que têm de se livrar do controlo estrangeiro sobre as suas próprias exportações. Querem ser eles a segurar as rédeas. E estão a consegui-lo.
O aparecimento de empresas chinesas na faixa tecnológica superior é um desenvolvimento que uns saúdam e outros temem. No passado recente, os produtos de gama baixa exportados pela China, permitiram controlar a inflação nos países de destino, forçando os fornecedores locais à adição de valor para se manterem competitivos. Mas, a partir de agora, o cenário será bem diferente.
O Ocidente ainda dispõe de algum tempo, mas tem de despertar. Os avanços tecnológicos chineses ainda não estão suficientemente maduros para uma luta de igual para igual em mercados exigentes, dir-se-á com alguma razão. E alguns revezes podem vir a acontecer às indústria chinesas, como o recente desaire do acidente ferroviário na alta velocidade, que obrigou as autoridades a repensarem todo o processo. Aqui se recorda o mediático desastre com o comboio de alta-velocidade que provocou 36 vítimas mortais e levou a que as autoridades chinesas mandassem retirar de circulação 54 composições da mais elevada tecnologia.
A China continua a licenciar mais engenheiros por ano do que qualquer outro país do mundo. É uma grande vantagem. Apesar disso, cerca de 80% da população ainda não possui formação secundária, o que é grande problema. Algumas áreas, onde a aposta chinesa foi considerada prioritária, como as indústrias verdes, apesar dos enormes subsídios estatais, muitos parques eólicos continuam inactivos, e mesmo desligados da rede, por escassez de engenheiros e outros profissionais qualificados capazes de operarem os equipamentos.
Alguns analistas acham que o país devia repensar as metas tecnológicas que traçou, sob pena de ter de os rever após eventuais comprometedores desaires. A inovação dificilmente se decreta. Há que dar tempo ao tempo. Mas os chineses têm pressa .
Seria preferível, dizem alguns, um maior enfoque noutras áreas, como a reforma da educação, que permitiria porventura maior progresso orgânico tecnológico com bases mais sustentáveis.
No fundo, a diferença de requisitos duma economia em tempos virada para o mercado soviético e agora decidida a satisfazer as necessidades dos mercados do Ocidente é abissal.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
domingo, 9 de outubro de 2011
CHINA – É "Pesada" a Nova Batalha nas Exportações
Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
09 Outubro de 2011
O artigo anterior, "China – Novo Paradigma Exportador?", introduziu a nova mudança estratégica chinesa no que diz respeito a exportações - da gama baixa para níveis progressivamente mais elevados de incorporação de valor.
Este deslocamento era inevitável. O assunto já aqui havia sido tratado em Setembro de 2010, tendo justificado assinalável interesse, a avaliar pelas visitas registadas no blog. Toda a gente estava consciente de que isto iria acontecer, apenas se desconhecendo quando, e com que consequências globais. Parece falta de senso dos países industrializados não se terem precavido, pois a história recente tem mostrado que sempre que a China apostou no crescimento de qualquer sector, o fez com base em economias de escala suportadas em poderosos investimentos. Evidenciando pistas, portanto. Os países ricos parecem ter esquecido depressa com foi penosa para eles a aposta chinesa na indústria siderúrgica na década de 2000. Nenhuma novidade, portanto, sobre o que está a acontecer. Inexplicável amnésia? Incúria? Sobranceria? Um compósito, talvez.
Atente-se na figura anterior, onde sob a designação de “Zona Quente” (a expressão é recorrente nos textos da The Economist), se constrói um radar do impacte das novas apostas de exportação chinesas no contexto global. No gráfico torna-se bem visível quais os sectores em que os países da OCDE sentem actualmente a pressão exportadora chinesa. Resumidamente, onde o Ocidente menos a desejava.
O estudo, realizado sobre dados de 2007-2010, incidiu em 217 mercados de exportação de mercadorias (commodities), calculando-se que o valor mundial destas transacções possa ter ultrapassado 10 t$. O mapeamento resulta de cruzamento das percentagens de exportações globais dos países OCDE, no eixo horizontal, com a variação verificada na quota de mercado chinesa em três anos, no eixo vertical.
A “Zona Quente”, ou campo crucial da luta, situa-se no quadrante superior direito, onde os países OCDE detêm quota dominante do mercado, e onde as apostas chinesa têm sido mais significativas, de 2007 a 2010. Neste quadrante, situam-se 37 sectores responsáveis por 927 b$ em 2010. Repare-se no quadro – releva equipamentos pesados e de precisão, áreas onde se tornam imprescindíveis avanços significativos nas tecnologias de corte e modelação de metais. Há uma década, tal teria sido impossível.
A quota de mercado dos países OCDE nestes mercados passou de 79% em 2007 para 74.7% em 2010 – cerca de 4.3 pontos percentuais. No mesmo período a quota chinesa passou de 8.5% para 14% - cerca de 5.5 pontos percentuais.
A táctica utilizada pela China parece ter sido a habitual – importa os produtos que quer vir a produzir, das melhores fontes, procedendo a processos de reengenharia (reverse engineering) que os possa dotar dos conhecidos necessários para produção em massa, normalmente através de empresas start-up.
Para consultar números detalhados sobre as exportações mundiais, aconselho os seguintes sítios: ”indexmundi.com”, ou ”Economia da China”, entre os mais de quatro milhões de entradas que respondem à chave de pesquisa “china exportações”. Obviamente, que os números diferem conforme as fontes, mas com facilidade se encontram fontes fidedignas na Web.
O gráfico que se segue ilustra bem a evolução das exportações chinesas de 1999 a 2010 (os valores apresentados têm validade a 01. Jan.2011, a assinatura de CIA World Factbook, e expressão em b$).
As medidas proteccionistas
De formas mais ou menos encapotadas, os países OCDE, em particular USA e EU, têm vindo a implementar medidas proteccionistas nestes sectores. As regras anti-dumping e anti-subvenção (direitos de compensação) têm sido as mais utilizadas, salientando-se a incidência especial sobre peças e componentes em geral.
Sempre que podem os estados procuram igualmente actuar sobre produtos acabados, embora neste domínio a luta seja mais dura e difícil. Foi por isso que já este ano a vitória dos EUA sobre a China na célebre disputa, que ocorreu na arena da Organização Mundial do Comércio (OMC), acerca do negócio de turbinas eólicas, altamente subsidiada pelo estado chinês, ficou famosa (ver aqui um elucidativo relato do incidente).
O recurso ao sistema de cópia melhorada
Por agora, como veremos em artigo separado, a grande investida exportadora chinesa, em matéria de maquinaria pesada, aponta para os países não-OCDE, no que já se denomina negócio do Sul para o Sul. Todos crêem, contudo, que se trata de ganhar experiência e escala para os voos desejados sobre os países industrializados.
A China tem larga margem de progresso nesta luta de médio prazo. A sua participação no mercado global de exportações de veículos automóveis ainda é insípida (553 b$), assim como em produtos finais farmacêuticos (310 b$) e aviação (85 b$).
Por certo, será uma questão de tempo. As mudanças aproximam-se, e, sobretudo, estão planeadas. Nalgumas áreas são demasiadamente evidentes. No campo das exportações de micro-chips, as exportações chinesas cresceram cerca de 8% para um total de 361 b$, embora estes números sejam difíceis de confirmar dada a significativa participação de processamento e montagem. Nota-se, contudo, que aqui também a industria chinesa está progressivamente a produzir produtos e componentes próximos dos que tradicionalmente tem vindo a importar, à medida que vai percebendo os segredos da sua fabricação.
“Made in China” já não é o que era…
Parecem distantes os dias em que nos vimos confrontadas com a ameaça da inundação de têxteis, calçado, e brinquedos de baixo custo exportados pela China. Foi a investida de gama baixa que incluiu ferramentas de trabalho baratas e de má qualidade.
O Ocidente riu e aproveitou, olhando com algum desdém para as novas oportunidades. O pequeno comércio, contudo, ressentiu-se e protestou. Sem grande sucesso, diga-se. Veja-se a propósito: ”Leve que é garantido, é Made in China”, que publiquei faz agora um ano.
A oferta exportadora chinesas mudará a muito curto prazo, e será liderado pelos fabricantes de equipamentos pesados, de precisão, e de qualidade concorrencial.
Para já, em mercados terceiros. Amanhã, nos mercados mais nobres. O Ocidente parece somente observar, sem mostrar qualquer capacidade de resposta. A rede expande-se.
A seguir, em artigo separado, abordarei como a China pretende “Construir Equipamentos Para Construir o Mundo”.
vitor.trigo@gmail.com
09 Outubro de 2011
O artigo anterior, "China – Novo Paradigma Exportador?", introduziu a nova mudança estratégica chinesa no que diz respeito a exportações - da gama baixa para níveis progressivamente mais elevados de incorporação de valor.
Este deslocamento era inevitável. O assunto já aqui havia sido tratado em Setembro de 2010, tendo justificado assinalável interesse, a avaliar pelas visitas registadas no blog. Toda a gente estava consciente de que isto iria acontecer, apenas se desconhecendo quando, e com que consequências globais. Parece falta de senso dos países industrializados não se terem precavido, pois a história recente tem mostrado que sempre que a China apostou no crescimento de qualquer sector, o fez com base em economias de escala suportadas em poderosos investimentos. Evidenciando pistas, portanto. Os países ricos parecem ter esquecido depressa com foi penosa para eles a aposta chinesa na indústria siderúrgica na década de 2000. Nenhuma novidade, portanto, sobre o que está a acontecer. Inexplicável amnésia? Incúria? Sobranceria? Um compósito, talvez.
Atente-se na figura anterior, onde sob a designação de “Zona Quente” (a expressão é recorrente nos textos da The Economist), se constrói um radar do impacte das novas apostas de exportação chinesas no contexto global. No gráfico torna-se bem visível quais os sectores em que os países da OCDE sentem actualmente a pressão exportadora chinesa. Resumidamente, onde o Ocidente menos a desejava.
O estudo, realizado sobre dados de 2007-2010, incidiu em 217 mercados de exportação de mercadorias (commodities), calculando-se que o valor mundial destas transacções possa ter ultrapassado 10 t$. O mapeamento resulta de cruzamento das percentagens de exportações globais dos países OCDE, no eixo horizontal, com a variação verificada na quota de mercado chinesa em três anos, no eixo vertical.
A “Zona Quente”, ou campo crucial da luta, situa-se no quadrante superior direito, onde os países OCDE detêm quota dominante do mercado, e onde as apostas chinesa têm sido mais significativas, de 2007 a 2010. Neste quadrante, situam-se 37 sectores responsáveis por 927 b$ em 2010. Repare-se no quadro – releva equipamentos pesados e de precisão, áreas onde se tornam imprescindíveis avanços significativos nas tecnologias de corte e modelação de metais. Há uma década, tal teria sido impossível.
A quota de mercado dos países OCDE nestes mercados passou de 79% em 2007 para 74.7% em 2010 – cerca de 4.3 pontos percentuais. No mesmo período a quota chinesa passou de 8.5% para 14% - cerca de 5.5 pontos percentuais.
A táctica utilizada pela China parece ter sido a habitual – importa os produtos que quer vir a produzir, das melhores fontes, procedendo a processos de reengenharia (reverse engineering) que os possa dotar dos conhecidos necessários para produção em massa, normalmente através de empresas start-up.
Para consultar números detalhados sobre as exportações mundiais, aconselho os seguintes sítios: ”indexmundi.com”, ou ”Economia da China”, entre os mais de quatro milhões de entradas que respondem à chave de pesquisa “china exportações”. Obviamente, que os números diferem conforme as fontes, mas com facilidade se encontram fontes fidedignas na Web.
O gráfico que se segue ilustra bem a evolução das exportações chinesas de 1999 a 2010 (os valores apresentados têm validade a 01. Jan.2011, a assinatura de CIA World Factbook, e expressão em b$).
As medidas proteccionistas
De formas mais ou menos encapotadas, os países OCDE, em particular USA e EU, têm vindo a implementar medidas proteccionistas nestes sectores. As regras anti-dumping e anti-subvenção (direitos de compensação) têm sido as mais utilizadas, salientando-se a incidência especial sobre peças e componentes em geral.
Sempre que podem os estados procuram igualmente actuar sobre produtos acabados, embora neste domínio a luta seja mais dura e difícil. Foi por isso que já este ano a vitória dos EUA sobre a China na célebre disputa, que ocorreu na arena da Organização Mundial do Comércio (OMC), acerca do negócio de turbinas eólicas, altamente subsidiada pelo estado chinês, ficou famosa (ver aqui um elucidativo relato do incidente).
O recurso ao sistema de cópia melhorada
Por agora, como veremos em artigo separado, a grande investida exportadora chinesa, em matéria de maquinaria pesada, aponta para os países não-OCDE, no que já se denomina negócio do Sul para o Sul. Todos crêem, contudo, que se trata de ganhar experiência e escala para os voos desejados sobre os países industrializados.
A China tem larga margem de progresso nesta luta de médio prazo. A sua participação no mercado global de exportações de veículos automóveis ainda é insípida (553 b$), assim como em produtos finais farmacêuticos (310 b$) e aviação (85 b$).
Por certo, será uma questão de tempo. As mudanças aproximam-se, e, sobretudo, estão planeadas. Nalgumas áreas são demasiadamente evidentes. No campo das exportações de micro-chips, as exportações chinesas cresceram cerca de 8% para um total de 361 b$, embora estes números sejam difíceis de confirmar dada a significativa participação de processamento e montagem. Nota-se, contudo, que aqui também a industria chinesa está progressivamente a produzir produtos e componentes próximos dos que tradicionalmente tem vindo a importar, à medida que vai percebendo os segredos da sua fabricação.
“Made in China” já não é o que era…
Parecem distantes os dias em que nos vimos confrontadas com a ameaça da inundação de têxteis, calçado, e brinquedos de baixo custo exportados pela China. Foi a investida de gama baixa que incluiu ferramentas de trabalho baratas e de má qualidade.
O Ocidente riu e aproveitou, olhando com algum desdém para as novas oportunidades. O pequeno comércio, contudo, ressentiu-se e protestou. Sem grande sucesso, diga-se. Veja-se a propósito: ”Leve que é garantido, é Made in China”, que publiquei faz agora um ano.
A oferta exportadora chinesas mudará a muito curto prazo, e será liderado pelos fabricantes de equipamentos pesados, de precisão, e de qualidade concorrencial.
Para já, em mercados terceiros. Amanhã, nos mercados mais nobres. O Ocidente parece somente observar, sem mostrar qualquer capacidade de resposta. A rede expande-se.
A seguir, em artigo separado, abordarei como a China pretende “Construir Equipamentos Para Construir o Mundo”.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
CHINA – Novo Paradigma Exportador?
Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
05 Outubro de 2011
Em 2012, o sector exportador chinês, que tem sido a alavanca do crescimento económico do país, deverá dobrar um novo e importante marco – espera-se que, finalmente, a contribuição dos produtos com origem nas empresas nacionais supere a participação dos produtos oriundos de empresas chinesas de capital estrangeiro operando no país.
O que se está a passar no subsector de maquinaria pesada para a construção é paradigmático. É bem provável que ainda em 2011 a China ultrapasse a Alemanha e o Japão neste domínio, assumindo-se como segundo fornecedor mundial, logo a seguir aos USA.
Qual o impacte que esta nova realidade aportará à economia chinesa e que implicações poderá acarretar aos mercados internacionais?
Vejamos primeiro porque esta nova realidade se tornará inevitável.
• Várias vezes aqui foi referido que o aumento de salários implicaria várias consequências. Por uma lado, e aproveitando o imparável desenvolvimento tecnológico, os exportadores tiveram de olhar com redobrada atenção para a necessidade de subirem na cadeia de valor. Tal movimentação permitiria competir em novos domínios, até agora reservas exclusivas dos países desenvolvidos, mas obrigaria a novas estratégias de produção e distribuição;
• No intuito de contornar as dificuldades esperadas na colocação destes produtos nos principais mercados, a China apostou nos países em desenvolvimento (grosso modo apelidados não-OCDE), onde nos últimos anos as grandes potências exportadoras conheceram retrocesso de vendas;
• Apesar do enorme desenvolvimento interno da última década, a China continua carente de infraestruturas. Para as construir precisa de equipamentos pesados. O mercado interno, funcionará assim para o escoamento em larga escala dos novos produtos, bem como evitará importações para o efeito;
• Esta aposta permitirá igualmente, construir novas unidades de produção no interior mais pobre, criando empregos e gerando consumo interno. As novas infraestruturas, ao facilitarem as comunicações com os vizinhos, permitirão novos canais de fornecimento, e fortalecimento da posição chinesa como locomotiva do desenvolvimento pan-asiático.
Mais uma vez, os chineses mostram como se planeia e se cumpre o planeado nas diversas vertentes, directas e indirectas, do comércio internacional.
Foram dez anos de sonho
Apesar dos impactes negativos das crises financeira e económica iniciadas em 2008 e ainda longe de solução mundial, a última década chinesa foi uma década de sonho. Mesmo contando que 2009 foi doloroso também para a China.
Relevando alguns registos:
• Desde 2001, o incremento anual das exportações chinesas de produtos manufacturadas tem sido cerca de 1 ponto percentual;
• Neste domínio a participação chinesas no total das exportações mundiais foi, 2010, de 13.7% (em 2009 havia sido 12.1%).
No entanto, todos concordam que se a China quiser continuar este ritmo de crescimento, terá de ultrapassar a questão dos aumentos constantes dos custos de mão-de-obra que afectarão negativamente as vendas de produtos de grande consumo e baixa qualidade. Pura e simplesmente, verão a sua competitividade fortemente afectada. Solução? Derivar a atenção nas gamas média e alta.
Por enquanto, as exportações de gama baixa continuam a aumentar, mas as autoridades chineses sabem que a vaca irá emagrecer. Há que estar preparado para a chegada do ponto de viragem. A The Economist Intelligence Unit procedeu ao cálculo de Índice de Similaridade de Exportações (ESI) e chegou ao seguinte gráfico:
Estas curvas devem ser interpretadas da seguinte forma: O ESI revela o grão de sobreposição das exportações chinesas face aos seus competidores mais ricos. O nível 0 significa ausência de concorrência, isto é, nenhum dos exportadores participa nos mesmos mercados, e o nível 100 revela idênticas estruturas de exportação.
Então, do gráfico, retira-se que, na última década a tendência é ascendente, embora com níveis baixos. A China continua um produtor/exportador predominantemente baseado em trabalho intensivo, com a capacidade exportadora focada na gama baixa (porventura centrada em mercadorias (commodities), tais como vestuário, calçado, têxteis e brinquedos).
Como será a próxima década?
Como foi referido, os mercados desenvolvidos têm sido dominados pelos exportadores que incorporam intensamente nas suas ofertas tecnologia e capital. A China tem apostado principalmente em gama baixa e intensa incorporação de mão-de-obra. É este paradigma que a China quer mudar de forma sustentável.
Para o conseguir, a China tenta conquistar os países em desenvolvimento, em áreas onde tem tido oferta muito limitada, e onde os poderosos revelam crescentes debilidades. A participação combinada dos USA, EU-27 e Japão nas exportações mundiais que representava 63.3% em 2001, caiu para 56.3% em 2010. A China quer aproveitar esta tendência, e ocupar o terreno perdido pelos seus competidores.
O próximo artigo irá abordar a questão específica da exportação chinesa de equipamentos pesados para a construção.
vitor.trigo@gmail.com
05 Outubro de 2011
Em 2012, o sector exportador chinês, que tem sido a alavanca do crescimento económico do país, deverá dobrar um novo e importante marco – espera-se que, finalmente, a contribuição dos produtos com origem nas empresas nacionais supere a participação dos produtos oriundos de empresas chinesas de capital estrangeiro operando no país.
O que se está a passar no subsector de maquinaria pesada para a construção é paradigmático. É bem provável que ainda em 2011 a China ultrapasse a Alemanha e o Japão neste domínio, assumindo-se como segundo fornecedor mundial, logo a seguir aos USA.
Qual o impacte que esta nova realidade aportará à economia chinesa e que implicações poderá acarretar aos mercados internacionais?
Vejamos primeiro porque esta nova realidade se tornará inevitável.
• Várias vezes aqui foi referido que o aumento de salários implicaria várias consequências. Por uma lado, e aproveitando o imparável desenvolvimento tecnológico, os exportadores tiveram de olhar com redobrada atenção para a necessidade de subirem na cadeia de valor. Tal movimentação permitiria competir em novos domínios, até agora reservas exclusivas dos países desenvolvidos, mas obrigaria a novas estratégias de produção e distribuição;
• No intuito de contornar as dificuldades esperadas na colocação destes produtos nos principais mercados, a China apostou nos países em desenvolvimento (grosso modo apelidados não-OCDE), onde nos últimos anos as grandes potências exportadoras conheceram retrocesso de vendas;
• Apesar do enorme desenvolvimento interno da última década, a China continua carente de infraestruturas. Para as construir precisa de equipamentos pesados. O mercado interno, funcionará assim para o escoamento em larga escala dos novos produtos, bem como evitará importações para o efeito;
• Esta aposta permitirá igualmente, construir novas unidades de produção no interior mais pobre, criando empregos e gerando consumo interno. As novas infraestruturas, ao facilitarem as comunicações com os vizinhos, permitirão novos canais de fornecimento, e fortalecimento da posição chinesa como locomotiva do desenvolvimento pan-asiático.
Mais uma vez, os chineses mostram como se planeia e se cumpre o planeado nas diversas vertentes, directas e indirectas, do comércio internacional.
Foram dez anos de sonho
Apesar dos impactes negativos das crises financeira e económica iniciadas em 2008 e ainda longe de solução mundial, a última década chinesa foi uma década de sonho. Mesmo contando que 2009 foi doloroso também para a China.
Relevando alguns registos:
• Desde 2001, o incremento anual das exportações chinesas de produtos manufacturadas tem sido cerca de 1 ponto percentual;
• Neste domínio a participação chinesas no total das exportações mundiais foi, 2010, de 13.7% (em 2009 havia sido 12.1%).
No entanto, todos concordam que se a China quiser continuar este ritmo de crescimento, terá de ultrapassar a questão dos aumentos constantes dos custos de mão-de-obra que afectarão negativamente as vendas de produtos de grande consumo e baixa qualidade. Pura e simplesmente, verão a sua competitividade fortemente afectada. Solução? Derivar a atenção nas gamas média e alta.
Por enquanto, as exportações de gama baixa continuam a aumentar, mas as autoridades chineses sabem que a vaca irá emagrecer. Há que estar preparado para a chegada do ponto de viragem. A The Economist Intelligence Unit procedeu ao cálculo de Índice de Similaridade de Exportações (ESI) e chegou ao seguinte gráfico:
Estas curvas devem ser interpretadas da seguinte forma: O ESI revela o grão de sobreposição das exportações chinesas face aos seus competidores mais ricos. O nível 0 significa ausência de concorrência, isto é, nenhum dos exportadores participa nos mesmos mercados, e o nível 100 revela idênticas estruturas de exportação.
Então, do gráfico, retira-se que, na última década a tendência é ascendente, embora com níveis baixos. A China continua um produtor/exportador predominantemente baseado em trabalho intensivo, com a capacidade exportadora focada na gama baixa (porventura centrada em mercadorias (commodities), tais como vestuário, calçado, têxteis e brinquedos).
Como será a próxima década?
Como foi referido, os mercados desenvolvidos têm sido dominados pelos exportadores que incorporam intensamente nas suas ofertas tecnologia e capital. A China tem apostado principalmente em gama baixa e intensa incorporação de mão-de-obra. É este paradigma que a China quer mudar de forma sustentável.
Para o conseguir, a China tenta conquistar os países em desenvolvimento, em áreas onde tem tido oferta muito limitada, e onde os poderosos revelam crescentes debilidades. A participação combinada dos USA, EU-27 e Japão nas exportações mundiais que representava 63.3% em 2001, caiu para 56.3% em 2010. A China quer aproveitar esta tendência, e ocupar o terreno perdido pelos seus competidores.
O próximo artigo irá abordar a questão específica da exportação chinesa de equipamentos pesados para a construção.
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