sábado, 28 de agosto de 2010

COOPERAÇÃO, Manifestação de Inteligência Colectiva

Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
30 Outubro de 2007

A formiga no carreiro

Definir Inteligência como a capacidade de interpretar o mundo e transformá-lo em benefício próprio, é mais ou menos consensual. Mas há que atender que a alteração do ambiente estimula os outros para reacções individuais e colectivas.
Eminentes académicos (p.e. Pierre–Paul Grasse, citado por Gordon, sd), reputados centros internacionais (p.e. MIT), e outros estudiosos (p.e. Leonel Moura e Henrique Garcia Pereira, 2003) debruçaram-se sobre os comportamentos dos insectos, e em particular das formigas e das térmitas, procurando recolher informações que ajudassem a explicar estas influências.
As formigas, se bem que se deslocando aleatoriamente em busca de alimento, marcam o percurso com feromona, a fim de assegurarem o regresso ao ninho. Ao encontrarem comida, reforçam a marcação, evidenciando a importância dessa rota. Desta forma, as marcações que não forem reforçadas perderão, por evaporação, a importância atribuída e passarão a ser desconsideradas. É um autêntico trabalho probabilístico de decifração do caminho mais aconselhado através da intensidade de feromona inalada, e sem dúvida uma inequívoca manifestação de feedback positivo, a que todos os elementos dedicam particular atenção.
Um fenómeno curioso ocorre com a descoberta de atalhos. Também neste meio, muitas vezes são as minorias que se encarregam de descobrir as melhores soluções, que progressivamente vão sendo experimentadas por mais indivíduos, até que todo o grupo decida adoptá-lo como preferencial.

Insectos sociais e pessoas humanas

Precisemos do que estamos a falar. Existem cerca de 1018 insectos vivos, dos quais cerca de 2% são considerados sociais, compreendendo todas as formigas e térmitas, e algumas abelhas e vespas. As formigas representam 50% dos insectos, e colonizam a Terra há 100 milhões de anos. O Homo Sapiens fá-lo somente há cerca de 50 mil anos.
Vale a pena procurarmos averiguar “como e porque” as formigas sobrevivem há 100 mil séculos.

A questão do mapeamento cognitivo

A grande diferença entre os humanos (extensível aos mamíferos) e os insectos sociais está na localização dos mapas cognitivos. O mapeamento cognitivo humano reside no que se designa por mente, ao passo que nos insectos sociais assume carácter essencialmente colectivo. Eis a grande questão: Se conseguirmos descodificar o funcionamento deste tipo de inteligência colectiva, poderemos incrementar significativamente as nossas capacidades cognitivas.
A linguagem humana, na forma superior que lhe conhecemos, poderá contudo constituir o principal obstáculo a ultrapassar. A superior utilização de que dela fazemos na estruturação social do poder é eminentemente individual. A boa nova é que, apesar disso, a inteligência global dos grupos pode superar a soma das inteligências individuais dos seus elementos. E quando entendemos isso não hesitamos em recorrer a atributos alheios para proveito próprio.

Os objectivos humanos superam as metas quantitativas

Os humanos não limitam, porém, as suas preocupações à busca do maior resultado possível. Inúmeras metas qualitativas definem as atitudes humanas. De entre elas relevam a cultura, o bem-estar, a moda ou a educação.
Mas não se pense, contudo, que a feromona nos é indiferente. Ela é, por exemplo, responsável pela atracção sexual humana, situando-se o seu centro nevrálgico de tratamento a nível da pituitária, que, como se sabe, é uma fonte preferencial de informação para o hipotálamo, ou seja, para as vias cerebrais superiores como lhes chama Daniel Goleman (2006).

Inteligência Colectiva e Novas Tecnologias

As ciências da computação procuram hoje desenvolver algoritmos que expliquem e possam simular os comportamentos não humanos, em especial no mundo dos formigueiros, e deles retirarem ensinamentos. Refiram-se, a título de exemplo, os projectos de Vida Artificial (aLife) que procuram reproduzir em laboratório a complexidade dos modelos biológicos, os algoritmos genéticos de selecção natural ou os sistemas auto-organizados das colónias de formigas.
O estudo e representação computorizado do processamento da feromona, desenhando montes e vales, e acentuando e dissipando alternativas possíveis, sobre os modelos artificialmente construídos, poderá vir a constituir significativa contribuição para a explicação e previsibilidade dos comportamentos sociais.
A www (vulgo Internet) é o paradigmático mais actual do que se entende por Inteligência Colectiva. Inúmeros internautas, em especial a comunidade científica mundial, esforçam-se por partilhar conhecimentos sem reservas, apenas pelo prazer e pelos benefícios intrínsecos da partilha numa louvável iniciativa de geração de Inteligência Colectiva.

As baias da suboptimização

É surpreendente analisar o que acontece quando, após a descoberta do caminho ideal e da consequente auto-organização do formigueiro, este é confrontado com uma atalho artificialmente construído. A colónia parece ficar prisioneira da sua própria descoberta, só esporadicamente optando pela nova alternativa, mesmo apesar desta ser mais vantajosa.
Que semelhança com as teorias de Herbert Simon acerca da limitação das tomadas de decisão humanas – as nossas decisões são restritas à quantidade de informação de que dispomos.
Para as formigas, a grande limitação é a quantidade de feromona a que conseguem aceder. E para nós, qual é?


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REFERÊNCIAS

GOLEMAN, D. (2006): Inteligência Social, A Nova Ciência do Relacionamento Humano, Lisboa – Temas e Debates, Actividades Editoriais Lda.
GORDON, D. (sd): Collective Intelligence in Social Insects, AI Depot
http://ai-depot.com/Essay/SocialInsects.html
MOURA, L., Pereira, H. (2003): Aprendendo com a Stigmergia, a Auto-organização e as Redes de Cooperação, Paper apresentado em CHALLENGES 2003 - III Conferência Internacional sobre Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação Centro de Competência Nónio Séc. XXI da Universidade do Minho
http://www.lxxl.pt/babel/biblioteca/chal.html

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