Por: Vitor M. Trigo
vitor.trigo@gmail.com
05 Outubro de 2011
Em 2012, o sector exportador chinês, que tem sido a alavanca do crescimento económico do país, deverá dobrar um novo e importante marco – espera-se que, finalmente, a contribuição dos produtos com origem nas empresas nacionais supere a participação dos produtos oriundos de empresas chinesas de capital estrangeiro operando no país.
O que se está a passar no subsector de maquinaria pesada para a construção é paradigmático. É bem provável que ainda em 2011 a China ultrapasse a Alemanha e o Japão neste domínio, assumindo-se como segundo fornecedor mundial, logo a seguir aos USA.
Qual o impacte que esta nova realidade aportará à economia chinesa e que implicações poderá acarretar aos mercados internacionais?
Vejamos primeiro porque esta nova realidade se tornará inevitável.
• Várias vezes aqui foi referido que o aumento de salários implicaria várias consequências. Por uma lado, e aproveitando o imparável desenvolvimento tecnológico, os exportadores tiveram de olhar com redobrada atenção para a necessidade de subirem na cadeia de valor. Tal movimentação permitiria competir em novos domínios, até agora reservas exclusivas dos países desenvolvidos, mas obrigaria a novas estratégias de produção e distribuição;
• No intuito de contornar as dificuldades esperadas na colocação destes produtos nos principais mercados, a China apostou nos países em desenvolvimento (grosso modo apelidados não-OCDE), onde nos últimos anos as grandes potências exportadoras conheceram retrocesso de vendas;
• Apesar do enorme desenvolvimento interno da última década, a China continua carente de infraestruturas. Para as construir precisa de equipamentos pesados. O mercado interno, funcionará assim para o escoamento em larga escala dos novos produtos, bem como evitará importações para o efeito;
• Esta aposta permitirá igualmente, construir novas unidades de produção no interior mais pobre, criando empregos e gerando consumo interno. As novas infraestruturas, ao facilitarem as comunicações com os vizinhos, permitirão novos canais de fornecimento, e fortalecimento da posição chinesa como locomotiva do desenvolvimento pan-asiático.
Mais uma vez, os chineses mostram como se planeia e se cumpre o planeado nas diversas vertentes, directas e indirectas, do comércio internacional.
Foram dez anos de sonho
Apesar dos impactes negativos das crises financeira e económica iniciadas em 2008 e ainda longe de solução mundial, a última década chinesa foi uma década de sonho. Mesmo contando que 2009 foi doloroso também para a China.
Relevando alguns registos:
• Desde 2001, o incremento anual das exportações chinesas de produtos manufacturadas tem sido cerca de 1 ponto percentual;
• Neste domínio a participação chinesas no total das exportações mundiais foi, 2010, de 13.7% (em 2009 havia sido 12.1%).
No entanto, todos concordam que se a China quiser continuar este ritmo de crescimento, terá de ultrapassar a questão dos aumentos constantes dos custos de mão-de-obra que afectarão negativamente as vendas de produtos de grande consumo e baixa qualidade. Pura e simplesmente, verão a sua competitividade fortemente afectada. Solução? Derivar a atenção nas gamas média e alta.
Por enquanto, as exportações de gama baixa continuam a aumentar, mas as autoridades chineses sabem que a vaca irá emagrecer. Há que estar preparado para a chegada do ponto de viragem. A The Economist Intelligence Unit procedeu ao cálculo de Índice de Similaridade de Exportações (ESI) e chegou ao seguinte gráfico:
Estas curvas devem ser interpretadas da seguinte forma: O ESI revela o grão de sobreposição das exportações chinesas face aos seus competidores mais ricos. O nível 0 significa ausência de concorrência, isto é, nenhum dos exportadores participa nos mesmos mercados, e o nível 100 revela idênticas estruturas de exportação.
Então, do gráfico, retira-se que, na última década a tendência é ascendente, embora com níveis baixos. A China continua um produtor/exportador predominantemente baseado em trabalho intensivo, com a capacidade exportadora focada na gama baixa (porventura centrada em mercadorias (commodities), tais como vestuário, calçado, têxteis e brinquedos).
Como será a próxima década?
Como foi referido, os mercados desenvolvidos têm sido dominados pelos exportadores que incorporam intensamente nas suas ofertas tecnologia e capital. A China tem apostado principalmente em gama baixa e intensa incorporação de mão-de-obra. É este paradigma que a China quer mudar de forma sustentável.
Para o conseguir, a China tenta conquistar os países em desenvolvimento, em áreas onde tem tido oferta muito limitada, e onde os poderosos revelam crescentes debilidades. A participação combinada dos USA, EU-27 e Japão nas exportações mundiais que representava 63.3% em 2001, caiu para 56.3% em 2010. A China quer aproveitar esta tendência, e ocupar o terreno perdido pelos seus competidores.
O próximo artigo irá abordar a questão específica da exportação chinesa de equipamentos pesados para a construção.
Sem comentários:
Enviar um comentário